Susana Souza
Acadêmica do 2º Ano do Curso de Letras
(Unipan – Cascavel – Paraná)
De modo geral, as pessoas vinculam o termo cidadania ao conjunto de direitos fundamentais que gozam os indivíduos pertencentes a um Estado politicamente organizado. Contudo, a outra parte que completa a definição desse conceito é muitas vezes desprezada e esquecida, prejudicando o seu resultado efetivo. Esta outra face da cidadania são os deveres. Mas ninguém se prende muito a esse aspecto sob o risco de ser julgado como opressor. Isto porque este posicionamento adquire um tom mais sério, podendo ser interpretado como imposição, ferindo a liberdade, tão arduamente defendida e conquistada. Isso talvez explique o excesso de cautela ao tratar do tema. Entretanto é importante ressaltar que a cidadania se compõe de direitos, mas também de deveres.
Embora tenhamos avançado em termos de compreensão teórica, a prática da cidadania continua incomum e relativa. Segundo Cortez, em seu livro intitulado Participação é conquista, “o homem é cidadão quando se torna participante, seja de modo natural — quando nasce em uma nação democrática na qual essa condição lhe é automaticamente assegurada —, mas, sobretudo quando a coloca em exercício”.
O envolvimento com as causas sociais, a luta para a conscientização dos direitos e os movimentos que os reivindicam estão cada vez mais em voga nos dias atuais. Um exemplo esclarecedor a esse respeito é a chamada Lei Ficha Limpa, projeto de iniciativa popular aprovado no Congresso Nacional e que o Tribunal Superior Eleitoral considerou válido para aplicação nas eleições desse ano. A lei foi aprovada graças à mobilização de milhões de brasileiros e se tornou um marco fundamental para a democracia e para a luta contra a corrupção e a impunidade no país. Criam-se, portanto, maiores possibilidades de elegermos representantes com características essenciais para ocupação de cargos políticos, tais como probidade e honestidade, o que amplia, por sua vez, as perspectivas de uma administração pública que atenda aos interesses da população brasileira.
Cabe a nós agora a aceitação plena desse novo horizonte proposto no cenário político brasileiro. No dia 03 de outubro de 2010 queremos eleitores incorruptíveis, verdadeiros cidadãos, que sustentam a preocupação pelo bem coletivo e não se submetem a velha e conhecida “venda de voto” ou “boca de urna”. Caso contrário, desmorona tudo o que foi construído até aqui. E é assim que as nossas ações corrompem os nossos ideais.
Então surge o questionamento: “Cidadania: eu critico ou faço a minha parte?”.
As ações de projeção comunitária são bastante significativas; porém não são tudo. Cidadania começa antes do que se imagina, - em especial a partir de coisas aparentemente simples e cotidianas, mas que provocam mudanças reais e qualitativas. Bons modos, hábitos adequados, consciência socioambiental, bom senso, interesse pelo bem comum e atitude ética são propostas prioritariamente individuais. No entanto, se assumidas com comprometimento, refletirão em uma sociedade justa; de direitos e deveres respeitados, de condições igualitárias de crescimento e essencialmente cidadã.
Um exemplo: reclamar tão somente das agressões ao meio ambiente provocada por usinas e indústrias, que não praticam a sustentabilidade e a ética ambiental, não é o suficiente. No entanto, ao invés de guardar na bolsa ou no bolso, lançamos na natureza a embalagem do bombom degustado há pouco por não encontrarmos nenhuma lata de lixo por perto, normalmente não pensamos na gravidade, afinal é só uma pequena embalagem.
Parece exagero? Então multiplique esse gesto pelo número de pessoas ao redor do mundo que podem estar cometendo o mesmo ato displicente descrito anteriormente. Se nos parece difícil o exercício de uma ação tão simples quanto essa — de depositar o lixo no lugar correto — que dirá então mudar toda uma sociedade a fim de garantir igualdade para todos? Um brilhante líder político disse certa vez: ”Não pergunte ao seu país o que ele pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer pelo seu país”. Isto para dizer que é possível sim registrarmos progressos em termos de cidadania em nosso país. Basta o envolvimento. Basta a responsabilidade de fazermos cada um a sua parte, com respeito ao próximo e com respeito a nós mesmos.
Podemos ainda estar engatinhando nesse propósito, mas imagine nossa sociedade como uma criança que aprende algo novo, por mais simples que seja: seus olhos brilham, a vontade é intensa, há perseverança até o triunfo e, o que talvez seja o mais importante, ela jamais esquece o que aprendeu, apenas aprimora dia após dia. Este é o desafio que precisamos enfrentar. Com ousadia, alegria e responsabilidade podemos sim fazer a diferença.
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